sábado, 22 de novembro de 2008

Hoje meus quadros estão sendo expostos em Salvador


Férias na Bahia

Placa na entrada do túnel de bambu, na saída do aeroporto de Salvador: Sorria, você está na Bahia. Nem precisava.
Com a partida de Jorge Amado e depois de Dorival Caymmi, foi-se uma boa parte do espírito da Bahia do século XX. A cidade cresceu e se modernizou, conseguiu integrar as suas manifestações mais primitivas, dos tambores, dos blocos afro e do próprio carnaval, à alta tecnologia dos trios elétricos e da indústria da alegria em que se transformou o turismo baiano.
Como já cantava Gordurinha nos anos 50, "pau que nasce torto não tem jeito, morre torto, baiano burro garanto que nasce morto". Ou, como me disse Dorival Caymmi, quando lhe perguntei se ele queria ensaiar antes de um programa de TV: "Baiano já nasce ensaiado, meu filho."
Mas continuam vigorando os quatro tempos de qualquer atividade na Bahia: lento, lentíssimo, devagar-quase-parando e dorival-caymmi.
Carlinhos Brown desconstrói a lenda da preguiça local:
"Baiano é como avião a jato. Você olha ele de longe no céu, parece que está parado; chega perto e ele... zum!"
Davi Moraes reclamou com a baianinha que ela havia posto açúcar no suco de laranja que ele pedira sem. E ela, toda dengosa: "Mexa não."
O que a alguns pode parecer exibicionismo, para os baianos é apenas exuberância. Daí que eles não nascem, estréiam. E não morrem, saem de cena. Conseqüentemente, a Bahia não tem platéias, mas coadjuvantes. Não tem povo, tem elenco. É tal o sucesso da música baiana que se suspeita que a Bahia seja uma grande gravadora disfarçada de estado.
Na política baiana, o PMDB está aliado ao DEM, e o PT ao PSDB. E ainda se ouve a voz de ACM advertindo: "Pense um absurdo. A Bahia tem precedente."
Outro diferencial baiano vem da cultura do candomblé, uma religião sem pecado e sem culpa, onde os santos, as entidades, até intermedeiam romances e inspiram cantadas originais:
"Meu Oxóssi está doidinho pela sua Oxum."
Também se atribui à cultura do candomblé uma maior tolerância e liberdade sexual. Pode-se perguntar com naturalidade à amiga que diz que adora namorar:
"Menino ou menina?"
"Oxente, sou multimídia."
Texto de Nelson Motta para Sintonia Fina

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